A festaVestidos arrastam-se pelo chão, o barulho dos saltos a compassar no chão é absorvido pelas conversas cruzadas que circulam pela sala já por si cheia de jazz e de outra música elegante que passa despercebida. "Como está? Não a via desde a festa no outro palácio.... como é que o sítio se chamava...não se lembra? Penso que a vi lá, querida. No aniversário do Piecut, recorda-se?" Por entre sins espampanantes, a indiferença a cada conversa faz-se notar pelos ares de superficialidade ou não fossem estes a única coisa verdadeira que enche a sala. Castiçais e empregados bem fardados enchem o espaço, ambos adornados, ainda que não façam a menos diferença aos presentes. Apenas para servir luz ou bebidas. Restos de plumas no chão misturadas com brilhantes ou purpurinas, tornando-se impossível de distinguir o que veio de vestidos, cabelos ou adornos. Talvez até da maquilhagem nas pálpebras ou no peito descoberto, que assim se tem que estar, tão difícil que é respirar dentro de corpetes esse ar fumarento das cigarrilhas e cachimbos. O que importa é que esse escape do stress, o fumo, não falte ao Dom ou à Condessa, que de chaminés nada têm. Cabelos apanhados em espiral sem princípio ou fim, ou pelo menos com esses escondidos atrás dos aramescos caros que prendem os longos cabelos. Mesas cobertas com saias e por cima uma toalha, que nem precisava de lá estar, de tao coberta está com o conjunto individual para cada uma das 12 pessoas da mesa. Todos têm direito a tudo, três copos (branco, tinto ou...água), dois garfos, porque o terceiro já não cabia, duas facas, isto lateralmente, de cada lado. Entre os copos diagonais e os dois pratos sobrepostos, talheres de sobremesa. Por cima, uma obra de arte em tecido, guardanapo que nem se devia desfazer de tão trabalhado que está. Mas não vamos já por aí, por enquando Vossa Excelência quererá acompanhar-me para junto daquele Senhor que a chama? com certeza. conversas ilusórias, Contactos feitos, risos forçados e os
volto já, meu caro gastos..
Essa mão que pega a cigarrilha, flutuando por cima do ombro, palma virada para o ostensivo candeeiro de diamantes - se se descobrisse que é de vidro, a casa estaria em metade das pessoas -, mindinho espetado discretamente, enquanto o outro ombro descai para a frente numa única gargalhada, porque essas não são fáceis de sair sonoramente
perfeitas.
Uma perna flectida, a outra singularmente esticada, deixando-se conseguir ver a cor bronzeada que espreita pela comprida racha. Fica elegante, condiz com o corte das costas que é obrigado a acabar no limite.
Há quem tenha conseguido evitar todas as despesas nos último seis meses - o que inclui comida por metade, fica a dieta já despachada - para conseguir comprar aquele anel cinco quilates para o mindinho que não segurará a cigarrilha. E os Senhores Respeitados, esses têm bem merecido o seu anel doirado de brasão também no mindinho, pois querem-se todos a condizer.
O que não condiz é a distância que vai da cadeira à mesa para as Senhoras ou para os Embaixadores... Os embaixadores gostam que sua avolumada e esbelta fronte esteja confortavelmente exposta e pousada sobre as cadeiras desconfortáveis do salão de jantar. Elas, se é que me atrevo a chamar as Excelências por tão comum determinante, conseguem uma maior proximidade com a mesa, o esforço de caber nos vestidos não foi em vão. Ou talvez também a pensar na maior facilidade para a comunicação de detalhes da vida alheia à mesa, nem é preciso cochichar, ninguém quer - nem consegue - ouvir, tão comum é a circulação de rumores nesta classe.
Enfim, gente elegante e exuberantemente...vazia.