sábado, 25 de setembro de 2010

Multidão

Multidão. Gente. A agitação faz-me encolher cada vez que por dentro grito pelo outro sítio onde queria estar. Agarro-me ao chão e sinto nos dedos a única segurança de caminhos por quem ali passou com menos saudade que eu. Durante muito mais que segundos, horas ou dias, desejo dolorosamente aquilo que me arrependo de ter deixado para trás.
Até que pedaços do que sou - não: tudo o que sou - me devolvem ao meu novo mundo e me asseguram de que também aqui posso encontrar felicidade.
Sem saberes, sorrio pela ingenuidade de não saberes que a verdadeira felicidade passa por onde andam os teus pés.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Sem

Não mata... mas dói.
Vai mexendo comigo enquanto, farta de pedir que se esconda, faz questão de gritar bem alto. Muda aquilo que faço, não sou quem era se não levar memórias do que sou. Faz-me para no meio da agitação, leva-me ao chão quando só queria estar de pé.
E, ainda assim, atrevo-me a carregar o peso que tão leve se torna por saber que um dia as memórias deixarão de o ser quando tudo voltar a ganhar vida.

domingo, 19 de setembro de 2010

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Sonho acordado

Razão.
Fixo-me nela.
Será?
Acordo no vazio, espaço branco. Resplandece uma luz que confunde o olhar. Habituo-me, tento habituar-me. Espaço de razão, arestas de um cubo perdem-me no tempo. Não sei se sentada ou em pé, não tenho ponteiros que me localizem.
Intemporal, fecho os olhos e tento acordadar onde não seja tão transparente tudo o que sou.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

(in)Constante

Sítios em que nunca estive, pessoas que nunca conheci, coisas que nunca fiz, dias que não vivi. Lugares que nunca vi, entusiasmo que não senti.
E, ainda assim, o mesmo sentimento, o mesmo lugar-meu.
A mesma imagem, a mesma saudade. A mesma vontade, a mesma certeza. O mesmo ímpeto, a mesma chama.

domingo, 5 de setembro de 2010

Quanto me levei

Caderno aberto, vou escrevendo enquanto espero. No mesmo sítio. Inevitável, escrevo na mão sem precisar. Faz sorrir, deixa saudade, fantasmas que por ali passaram. Espero. E assim me deixo.

"Porque é que o tempo não pára por um bocado?... Gozar esta viagem sempre a teu lado. Ver o céu, o horizonte, Estar à beira-mar ou numa ponte. .... Desde que contigo aqui.
Gostava de dizer ao mundo o quanto me levei por ti. Lembrar-me de cada segundo que passámos aqui.
Os dias vão passando, as noites vão ligando... e tudo parece estar ainda a começar.
Aproveitar cada minuto, o tempo que há é muito curto. E em toda a certeza pôr as cartas na mesa. "

(Quanto me levei, Simplus)

sábado, 4 de setembro de 2010

I found Gold

Está quase...

Olho à volta e suspiro. Páro para escutar o que conheço, o som do meu quarto. Esvaziado, contemplo as paredes com as momórias que me trazem. Concentro-me, penso para dentro “são só 6 meses”. Sim, são. Mas distante disto, vou viver por muitos mais. Sento-me em cima da mesa, pés na cadeira. Respiro fundo mais uma vez , “está quase…” . Sorrio e tremo, anseio e derramo saudade de quem ainda não partiu. E aquilo de que me mais vai custar separar, mais vai dar um empurrão para olhar em frente. “Vai ser inesquecível”, prometo-me.
“Está quase…”

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Pés em terra

Pés bem assentes na terra? Sim, mas em breve noutra terra.
E, pensando bem, é bom não ter os pés tão assentes assim...!


Viajar? Para viajar basta existir. Vou de dia para dia, como de estação para estação, no comboio do meu corpo, ou do meu destino, debruçado sobre as ruas e as praças, sobre os gesto e os rostos, sempre iguais e sempre diferentes, como , afinal, as paisagens são. Se imagino, vejo. Que mais faço eu se viajo? Só a fraqueza extrema da imaginação justifica que se tenha que deslocar para sentir.
(Bernardo Soares por Fernando Pessoa in Livro do Dessassossego)