quarta-feira, 12 de março de 2008

Sentidos contrários
Se por entre o raio de luz que trespassa a janela me encontrasse, se com ele revirasse o mundo, se conseguisse soltar o voo que há em mim,

então talvez fosse.

Talvez, de facto, conseguisse ser as línguas de reflexo do sol sobre o horizonte do mar.
Talvez me desenrolasse dos fios confundidos dos auriculares do mp3 e das pedras da calçada do mundo que corre para os infinitos cantos do mundo, porque a Terra é redonda.

Talvez me deixasse , a mim, fugir da desilusão do pé da flor, talvez te disesse: "anda, é por aqui. Segue-me". E talvez nos deixasse levar para lá dos prédios, das luzes rápidas na autoestrada, das filas intermináveis de nuvens e restos delas que nos fazem imaginar coelhos, dragões, desenhos nas estrelas.

Gostava de passar pela fechadura da porta que me agarra à cadeira da boa educação. Fico sentada por ti, porque tem que ser. Um dia levanto-me, abro a boca e saem-me as palavras presas que se querem soltar, como ímanes contrários, presos um ao outro. aí falo os horrores e maravilhas que já conheces e finges desconhecer, ou que simplesmente queres evitar. E evitas. E mudas de faixa para te enganares e sentires que o teu destino é outro. Eu sou a tabuleta azul da direcção que devias seguir, queria ser. Devia sê-la. Quantas vezes já conduzimos na direcção certa? quantas vezes mudámos? E, de todas elas, nunca, ao mesmo tempo, olhámos o mesmo frente. E, quando olhamos para trás, não existe simultaneidade.

Minto. Uma vez.
Foi uma vez que voei alto, perto do Sol. Senti-me quente, preenchida. Mas queimei as asas, foste tu quem mas queimou.
Dá-me essas asas de volta. Não precisas de arranjar umas, as tuas estão aí, escondidas atrás da estante velha e usada.
De vez em quando mostras a pontinha da tua asa direita, devagarinho, como uma criança mostra uma joaninha presa na mão à mãe. Sorris feliz, recordando o sentido que agora não percorres, mas que querias percorrer, pensas duas vezes se estás a ver a tabuleta certa. Não estás, mas continuas.

Se um dia saissem como sementes da minha boca, eu fazia pontaria para terra boa. Mas é tão difícil, está tão longe. Não sei se é terra seca mascarada de fértil.
Não sei, mas tento saber.
Queria saber.
Um dia faço pontaria e espero que acerte.
Mas primeiro, vou olhar de frente a tabuleta e, como um raio de luz, fecho os olhos e atiro-me de cabeça para o desconhecido.

Se um dia eu pudesse, eu era.

6 comentários:

Pedro de Arimateia disse...

nao entendi, nao era para entender... mas está fenomenal :)

Anónimo disse...

Fiquei com "cara de ponto de interrogação"! Hahahaha, estou a brincar. Só para te responder à letra. Mas não concordo nada com o comentário anterior, no sentido de não entender...

Anónimo disse...

...queria era ter dito: "no sentido de eu entender...". Ou achar que entendo...

(n)Ana disse...

:o)
Obrigada Cacao.

Cacao disse...

Zé: talvez nao tenhas percebido...eheh

Ana, obrigada porquê?

Beijinhos:)

(n)Ana disse...

hehehe não cheguei a ver a segunda pergunta...
O Obrigada julgo que foi porque verbalizaste no post coisas que eu não conseguia mas sentia parecido.
Qualquer coisa assim :o)
Foi porque gostei de ler, certamente que foi isso.
Beijinho