segunda-feira, 19 de abril de 2010

Dicionário

Não são mais que isso: palavras. Então porque é que mexem tanto connosco? Porque é que preciso que elas me expliquem o que é? Porque é que tudo muda quando se resume a uma palavra? Já éramos o que somos antes de haver uma palavra. Tantas vezes pedimos mais do que palavras, mas agora tudo o que precisava era uma, apenas uma. O meu mundo gira à volta disso, mas faz parte de quem sou. É a maneira racional como vivo que me exige uma aproximação à realidade que conheço: as palavras. O que somos sempre foi o que é, mas o nome que lhe damos que tem ajuda-me a perceber. Da mesma maneira, o azul já era azul antes de ter nome, mas o facto de o ter ajuda-me a compará-lo com o amarelo ou com o azul-marinho. Às vezes preciso de um retiro mental para conseguir definir as coisas, para pôr tudo no lugar e pela ordem em que deve estar. Mas desta vez tudo o que precisava era de uma confirmação não minha para ter a certeza de que eu não estava a imaginar coisas. Porque se eu chamasse amarelo ao azul não fazia mal, o problema seria quando estivesse a pedir uma cadeira amarela e me dessem uma azul.
Não é que precise de pôr palavras em tudo, mas porque não é a minha palavra, que me diga só a mim o que sou, precisei dela. Porque se fosse só para mim, não havia palavras: tudo eram as memórias, o que sinto e o que desejo.
E por mais que goste de palavras... não posso deixar de as detestar: estão a trair-me por não estar a conseguir escrever e exprimir o que quero, como quero. Mais uma vez elas tomam as rédeas e deixam-me a mim, fantoche de escrita, fazer o que mandam. Elas têm regras, personalidade e vontade própria. Toda a escrita é um sítio onde podemos estar a conviver com palavras, mas nunca as dominaremos totalmente. Mas sim o contrário: são elas que mudam a nossa vida, a nossa perspectiva e definem o que somos.


Aliás,
já não quero mais palavras.
Dêem-me música.

Sem comentários: